A Declaração de Incheon para a Educação 2030 (2015) da comunidade global, plasmada no Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) n.º 4 das Nações Unidas, “Garantir o acesso à educação inclusiva, de qualidade e equitativa, promovendo oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos”, dá à educação o papel principal como garante de desenvolvimento dos restantes ODS.
E que Educação 2030 é esta, para o mundo complexo e contraditório em que vivemos (e viveremos)?
- Por um lado, o crescimento económico e a criação de riqueza reduziram as taxas de pobreza a nível global. Por outro, a intensificação da globalização tem produzido, nas últimas décadas, desigualdade crescente, desemprego jovem e emprego vulnerável;
- Padrões insustentáveis de desenvolvimento humano contribuem, em grande medida, para as alterações climáticas, a degradação dos ecossistemas e o aumento dos desastres naturais;
- A par de inovações tecnológicas disruptivas, com grande potencial para a cooperação e solidariedade, assistimos a formas recentes de populismo, que produzem retrocessos nos direitos humanos, civis e sociais em democracias adultas, conquistados ao longo de décadas.
A Educação deve encontrar formas de lidar com estas contradições. Nunca foi tão urgente.
Os quadros conceptuais internacionais atuais propostos para lidar com estes desafios têm-se focado no conceito de “competência”, como por exemplo, as Competências-chave da OECD ou mais recentemente, a Bússola de Aprendizagem 2030, realçando os tipos de competências que os alunos necessitam de forma a “navegar” para o futuro que queremos, individual e coletivamente:
“Para enfrentar os desafios do século XXI, os alunos precisam de ser capacitados e sentir que podem ajudar a moldar um mundo onde o bem-estar e a sustentabilidade - para eles próprios, para os outros e para o planeta - sejam alcançáveis. A Bússola de Aprendizagem 2030 da OECD identifica três ‘competências transformadoras’ de que os alunos precisam para contribuir e prosperar no mundo e moldar um futuro melhor: criando novos valores, reconciliando tensões e dilemas e assumindo responsabilidades.” (OECD, 2019, p. 16).
As competências são aqui entendidas como a integração de conhecimentos, capacidades, atitudes e valores que permitem agir de forma efetiva na construção do bem-estar individual e social.
Disciplinary – Disciplinar
Interdisciplinary – Interdisciplinar
Epistemic – Epistémico
Procedural – Procedimental
Knowledge – Conhecimento
Cognitive and meta-cognitive – Cognitivo e meta-cognitivo
Social & emotional – Social e emocional
Physical and practical – Material e prático
Skills – Capacidades
Personal - Pessoal
Local - Local
Societal - Social
Global – Global
Attitudes and Values – Atitudes e valores
Competencies – Competências
Parents – Encarregados de educação
Communities – Comunidades
Teachers – Professores
Peers - Pares
Well-being 2030 Individual & Societal – Bem-estar 2030 Individual e Social
Anticipation - Previsão
Action - Ação
Reflection – Reflexão
Creating new value – Criando novo valor
Taking responsibility – Assumindo responsabilidade
Reconciling tensions and dilemmas – Reconciliando tensões e dilemas
Students – Alunos
Literacy – Literacia
Numeracy – Numeracia
Data literacy – Literacia de dados
Health literacy -Literacia de saúde
Digital literacy – Literacia digital
Para atingir este propósito de bem-estar individual e coletivo, a OCDE remete para a necessidade de os alunos exercerem agência, tanto na sua educação como na sua vida diária, participando no mundo, influenciando positivamente pessoas, eventos e circunstâncias. Entenda-se “agência” como a capacidade para definir um motivo e identificar ações para alcançar um determinado objetivo, de forma autodeterminada.
Para ajudar os alunos a desenvolver a sua agência, os educadores devem não apenas reconhecer a sua individualidade, mas também o conjunto mais amplo de relações destes com os seus professores, colegas, famílias e comunidades, tornando-se por um lado coagentes e, por outro, ajudando a desenvolver as competências necessárias a essa agência, que é autêntica porque é significativa para ambos, uma vez que está ancorada no contexto local e porque ambiciona a um bem comum.
O desenvolvimento curricular deve, assim, evoluir de um modelo de progressão estático e linear, centrado em conhecimento disciplinar, para um modelo dinâmico, não-linear, que reconheça que cada aluno deve ter o seu percurso de aprendizagem personalizado, equipado com diferentes habilidades, conhecimentos, atitudes, valores e motivações. Também os educadores não devem reconhecer apenas a individualidade das suas disciplinas, mas igualmente o conjunto mais amplo de relações entre disciplinas, e a relação destas com a sociedade e o ambiente, bem como a forma como podem contribuir para o desenvolvimento da agência dos alunos para construírem um futuro melhor (OECD, 2019).